O BATISMO: IMERSÃO OU ASPERSÃO?
Introdução:
Este
artigo não tem por objetivo ATACAR, DIFAMAR OU DESRESPEITAR as igrejas que
batizam por imersão ou aspersão, mas tem o intuito apenas de mostrar as
diferenças básicas entre eles e o histórico relacionado ao assunto. As fontes
são bíblicas, mas teremos também referências externas relacionadas à geografia
e à política nos primórdios do cristianismo. Esperamos apenas e tão somente
chegar a uma conclusão lógica e de cunho espiritual, sem objetivar discussões
acaloradas ou tresloucadas, com acusações tipo heresias.
ENTENDENDO O SIGNIFICADO DE TEXTO E CONTEXTO
Quando
temos um texto, temos à sua volta todo um contexto.
Vejamos,
por exemplo, o caso de um filme qualquer. Temos o “herói” ou figura principal,
e ao mesmo tempo temos os personagens que de forma direta ou indireta
participam da trama. Muitas vezes, os personagens secundários acabam sendo tão ou mais
famosos que o próprio personagem principal.
Já
tivemos casos de personagens secundários tão famosos, que eles foram
temas de novos filmes voltados para eles. Isto serve também na vida real, na
ficção e na Bíblia.
O
caso do batismo, por exemplo, nos apresenta João Batista e depois Jesus. No
início, João era o personagem principal. Depois, Jesus foi tomando seu lugar e
se tornou a figura central. Mais tarde, a História da Igreja vai seguindo o
mesmo princípio do senhorio de Cristo, mas paralelamente nos apresenta outras
histórias, como a dos apóstolos e do apóstolo Paulo.
O
contexto também nos mostra costumes, política, história e geografia.
Antecedentes
históricos:
Entre
as ordenanças da carne impostas na velha dispensação, até o tempo da reforma da
nova aliança, o autor da Carta aos Hebreus menciona vários batismos
(Hebreus 9:10) que a Versão Brasileira do Novo Testamento traduz por várias
abluções. Esses batismos estão incluídos na lista das cerimônias do Velho
Testamento que deviam desaparecer por se terem tornado antiquadas. E como eram
feitos esses vários batismos do Velho Testamento?
No
mesmo capitulo 9 e versículo 13 da Carta aos Hebreus encontramos a indicação de
que um desses batismos era feito por aspersão e depara-se com a confirmação
disso no Velho Testamento, no capitulo 19 de Números. Diz o autor da Carta aos
Hebreus: "Se o sangue de bodes e de touros e as cinzas de uma novilha aspergidas
sobre os contaminados santifica-os para a purificação da carne, quanto mais o
sangue de Cristo que pelo Espírito eterno se ofereceu sem defeito a Deus,
purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus
vivo" (Hebreus 9:13, 14).
A
expressão “cinzas de uma novilha aspergidas sobre os contaminados” se
refere à água da purificação usada para aspergir os contaminados por um
cadáver. A descrição da purificação desses contaminados encontra-se no capitulo
19 de Números.
Ainda
no mesmo capitulo 9 da Carta aos Hebreus são mencionadas outras purificações
cerimoniais do Velho Testamento feitas por Moisés, pela aspersão de água e
sangue.
"Quando Moisés havia
falado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos
bezerros e dos bodes, com água e lã tinta de escarlate e hissopo, e aspergiu
não só o próprio livro como também a todo o povo, dizendo: Este é o sangue da
aliança que Deus ordenou para vós. Também da mesma, maneira aspergiu o
tabernáculo e todos os vasos do serviço sagrado" (Hebreus 9:19-21).
Essas
purificações feitas por Moisés devem estar incluídas nos vários batismos do
versículo décimo.
A
purificação cerimonial dos levitas era feita pelo aspergimento de água, como se
lê em Números 8:7:
"Assim lhes farás para
purificá-los; asperge sobre eles a água da expiação, e eles façam passar uma
navalha sobre toda a sua carne, lavem os seus vestidos e purifiquem-se a se
mesmos".
Esta
aí um exemplo claro de uma purificação cerimonial feita pela aspersão de água.
A
purificação cerimonial de um leproso curado era feita pela aspersão de sangue
misturado com água.
"E que se mate uma das
aves num vaso de barro sobre águas vivas. Quanto à ave viva, tomá-lo-á, e o pau
de cedro, e a escarlata e o hissopo e os molhará juntamente com a água viva no
sangue da ave que for morta sobre as águas vivas. Aspergirá sete vezes sobre
aquele que se há de purificar da lepra, e declará-lo-á limpo, e soltará a ave
viva sobre a face do campo" (Levítico 14:5-7).
É
este mais um caso de uma purificação cerimonial feita por aspersão.
Os vários
batismos de Hebreus 9:10 não podiam ser imersões, porque não há
purificações feitas por imersão no Velho Testamento. A expressão vários
batismos deve, pois, se referir às purificações do Velho Testamento que
geralmente se faziam por aspersão.
É
fato significativo que os batismos cerimoniais do Velho Testamento eram feitos
com água e com sangue, mas os do Novo são feitos somente com água. O sangue no
Velho Testamento era típico do sangue de Cristo que havia de ser derramado para
a remissão de pecados. O cordeiro pascal, cujo sangue fora aspergido nas
ombreiras e vergas das portas dos israelitas, na noite memorável da sua
libertação do cativeiro do Egito, era tipo do Cordeiro de Deus que havia de
tirar o pecado do mundo. Sendo assim que Jesus derramou o seu sangue na cruz do
Calvário, não havia mais necessidade de se derramar o sangue de animais. O tipo
desapareceu com o advento da gloriosa realidade.
Ademais,
o sangue de Cristo, na nova dispensação, é representado pelo vinho da santa
ceia e o pão é símbolo do seu corpo. Desapareceu, portanto, a necessidade de
qualquer outro símbolo para representar a sua morte expiratória. Perdura, no
entanto, a água, no Novo Testamento, como símbolo da purificação efetuada pelo
poder de Deus. No Novo Testamento temos o batismo cristão com água, mas
desapareceram todos os batismos cerimoniais com sangue.
Jesus
veio por meio de água e sangue, porque, quando foi transpassado pela lança do
soldado romano, do seu lado correram água e sangue (João 19:34), mas, desde o
Velho Testamento, a água e o sangue eram tipos ou símbolos de alguma coisa e
eram, no dizer bíblico, sombras das coisas vindouras.
A
água representava a purificação efetuada pelo poder de Deus e o sangue
representava o meio de que Deus se serviria para efetuar a remissão dos
pecados. "Segundo a lei quase todas as coisas são purificadas com sangue,
e sem derramamento de sangue não há remissão" (Hebreus 9:22). Jesus veio
com aquilo que a água e o sangue representavam, pois veio cheio do poder
purificador do Espírito Santo de Deus (Lucas 3:16, 17) e também com sangue
expiatório, sendo Ele o Cordeiro de Deus que havia de tirar o pecado do mundo
(João 1:29).
Antes
de passarmos a considerar o batismo de João, é de conveniência notar que as
purificações dos judeus eram feitas com água viva, isto é, com água corrente
(Levítico 14:5, 6, 51, 52; 15:13; Números 19:17).
Quando
não encontravam água em movimento, punham-na em movimento derramando-a ou
aspergindo-a com força. Para os rabis, "água parada representa a morte e a
corrupção, e a água em movimento a vida e as influencias vivificantes do
Espírito de Deus'* (Palavras de um rabi citadas por Fairfield nas suas
"Cartas sobre o Batismo").
Quando
João Batista começou a pregar e a batizar no deserto, não tinha para si outro
modelo do modo do batismo senão aquele dos vários batismos judaicos do
Velho Testamento que, geralmente, se faziam por aspersão, e, no Rio Jordão,
encontrou aquelas águas vivas necessárias para a administração própria do rito
do batismo.
Tendo
diante de si esses exemplos do modo de batizar praticado geralmente pelos
judeus, seria muito natural que o Batista adotasse o mesmo modo. Deus mandou
que ele batizasse. O modo de batizar dos judeus não era imergir e sim aspergir
ou derramar. Está claro, portanto, que para João, judeu e conhecedor da lei
mosaica, batizar não era imergir, mas aspergir ou derramar. Em obediência ao
mandamento de Deus para batizar, deveria ter seguido o modelo da lei de Moisés.
As
gravuras mais antigas do batismo de Jesus representam-no como uma efusão e não
imersão. Em uma dessas representações, da Igreja de Cosmedin de Ravena,
edificada no ano 401, Jesus está em pé dentro do Rio Jordão, e o Batista, sobre
uma pedra à margem do rio, servindo-se de uma concha, derrama água sobre a
cabeça do Salvador. Existem ainda algumas outras gravuras antigas do batismo de
Jesus e todas elas concordam com aquela de Ravena quanto ao modo do batismo.
Damos,
em seguida, a palavra ao eminente mestre prof. Othoniel Motta:
"Que esta última
(efusão sobre a cabeça), foi a forma dominante, provam-no as gravuras mais
antigas, entre as quais não existe um sequer que procure figurar o batismo
por imersão total. Não vamos aqui discutir se a Igreja primitiva errou com
esse costume; seria entrar em discussões teológicas, e o nosso intuito, já o
dissemos, é linguístico, histórico, arqueológico. Narramos fatos e eles se
impõem com uma evidência incontrastável. Quanto mais antigas tanto mais eloquentes
são em seu testemunho as gravuras que nos legaram os singelos artistas da
cristandade. A água é exígua; não passa às vezes do tornozelo. O ministrante
quase invariavelmente se acha em seco. Só vimos uma gravura em que parece que
ele tem os pés dentro da água". (Das anotações do prof. Othoniel Motta ao
Evangelho de Matheus).
Há
ainda outra grave dificuldade para o batismo de João ter sido por imersão. O
seu ministério podia ter durado uns dezoito meses e nesse período de tempo
"saíram a ter com ele toda a terra da Judeia e todos os moradores de
Jerusalém e eram por ele batizados no Jordão, confessando os seus pecados
(Marcos 1:5).
Mateus
faz uma afirmação quase idêntica (Mateus 3:5 e 6). A linguagem desses
escritores sagrados dá a entender que o movimento foi nacional. Os judeus em
massa submetiam-se ao batismo de João.
Suponhamos que somente um
milhão de judeus tivessem sido batizados por ele, e que durante um ano todo ele
nada fizesse senão batizar, a proporção para cada dia seria de mais de 2.700
pessoas. Nenhuma criatura humana poderia ter imergido nem a quarta parte desse
número durante sete dias consecutivos. E nem mesmo poderia um homem viver mês
após mês dentro d'água até a cintura" (Fairchild on Baptism, pag. 54).
Se
João tivesse empregado um molho de hissopo molhado em água, para com ele
aspergir o povo, à moda dos batismos do Velho Testamento (Números 19:18; Êxodo
12:22; Levítico 14:6,7), esse processo tornaria praticável o trabalho de
batizar as imensas multidões que o procuravam.
De
tudo quanto acaba de ser exposto, conclui-se que o batismo de João não podia
ter sido administrado por imersão.
Os
apologistas da imersão, como o único modo bíblico de batizar, costumam alegar
que João Batista devia ter batizado por imersão, porque procurou a Enon, por
haver ali "muitas águas". A abundância de águas é para eles uma prova
de imersão.
Em
primeiro lugar, notamos que, se muitas águas são necessárias para imergir muita
gente, então no dia de Pentecostes, caso os batismos tivessem sido por imersão,
teria sido necessário que os apóstolos procurassem muitas águas, pois nesse dia
foram batizadas três mil pessoas, na cidade de Jerusalém, onde a água era
notoriamente escassa. Mas, no dia de Pentecostes, os apóstolos não procuraram
as águas do Jordão e, nem tão pouco, um lugar de muitas águas.
Havia
sido profetizado que João Batista havia de clamar no deserto. E de fato, fez as
suas pregações no deserto da Judeia. Uma vez que vinham a João grandes
multidões de gente, não poderia recebê-las em lugares onde houvesse pouca água.
Mesmo quando não tivesse feito nenhum batismo, ele teria de afastar-se das
partes secas do deserto e teria de procurar água abundante para suprir as
necessidades físicas das multidões que o procuravam.
Todo
o mundo sabe que os grandes acampamentos de gente necessitam de água abundante
para o seu abastecimento. É essa uma explicação natural do fato de ter João
procurado lugares de abundância de água para o desempenho da sua missão de
precursor do Messias. A procura de água abundante não necessita de imersões
para explicá-la. Ademais; a expressão "muitas águas" indica mais uma
porção de fontes de água, como as que havia em Enon, do que uma água profunda
apropriada para imersões.
Os
imersionistas insistem que Jesus foi batizado por imersão, porque saiu da água
quando foi batizado. A tradução literal do texto grego é: E tendo sido
batizado Jesus, imediatamente subiu da água (Mateus 3:16). Mas nessa
expressão não vai nenhuma prova de imersão. Um animal entra na água de um rio,
bebe, e depois sai da água, mas não houve nenhum mergulho. O entrar na
água e sair dela, não é prova de imersão.
Das
narrativas do batismo de Jesus em Mateus 3:16 e Marcos 1:10, percebe-se que o
sair da água foi um ato praticado por Jesus e não pelo Batista. Não se diz que
o Batista tirou Nosso Senhor Jesus Cristo de dentro da água como teria de
fazer, se o batismo tivesse sido por imersão, mas foi o próprio Jesus que subiu
da água, logo após o seu batismo realizado por João. O sair da água, portanto,
não foi uma parte do batismo efetuado por João, mas um ato espontâneo praticado
por Jesus, logo depois do seu batismo. Já se vê, que o sair da água não sendo
uma parte do batismo, nada pode provar com referência ao modo do ato do
batismo.
Há
quem julgue que a expressão: "João batizou no Jordão”, seja uma prova
de imersão. No entanto, também se lê que João "veio batizando no
deserto" (Marcos 1:4, veja-se o grego). Ninguém julgará que esta última
expressão signifique que João mergulhou o povo na areia do deserto. Só mesmo
quem tem a ideia fixa de que batizar é somente imergir poderá julgar que
"batizar no Jordão" não poderá ter outro sentido senão mergulhar no
Jordão.
Não
há nada na linguagem dos escritores sagrados que indique ter sido feito o
batismo de Jesus por imersão. É muito mais provável que tenha sido feito por
afusão ou aspersão, como indicam as mais antigas representações desse ato.
Estaria isso, também de acordo com os batismos cerimoniais de purificação dos
judeus que geralmente eram feitos por aspersão, como já tivemos ocasião de
verificar.
Ainda
mais um versículo nos faz crer que o batismo de João foi por derramamento ou
aspersão; é Mateus 3:11. Fala o grande precursor de Jesus: “Eu, na verdade, vos
batizo com água para o arrependimento; mas aquele que há de vir depois de mim,
é mais poderoso do que eu, e não sou digno de levar-lhe as sandálias; ele vos
batizará com o Espírito Santo e com fogo".
Ora,
sabemos que, quando Jesus batizou com o Espírito Santo, Ele o derramou
(Atos 2:33) e também sabemos que as línguas de fogo repousaram sobre os
discípulos. Cumpriu-se o que o Batista havia vaticinado. Se o batismo com o
Espírito Santo e com fogo foi um derramamento ou um repousar sobre, porque não
o seria igualmente o batismo com água administrado por João?
Resumindo;
as nossas razões para crer que o batismo de João foi por aspersão ou
derramamento são as seguintes:
1 -
O modelo que João encontrou nos vários batismos do Velho Testamento era de
aspersão ou derramamento. Ele devia ter seguido esse modelo.
2 -
As gravuras mais antigas do batismo administrado por João representam-no como
um derramar de água sobre a cabeça do batizando.
3 -
As forças físicas de João não teriam sido suficientes para batizar por imersão,
no curto espaço do seu ministério, as imensas multidões que o procuraram e por
ele foram batizadas.
4 -
A comparação que João faz do seu batismo com o de Jesus favorece o derramamento
como o modo empregado, visto como, o batismo com o Espírito Santo, feito por
Jesus, foi um derramamento. Não há motivo para supor que houvesse diferença no
modo dos dois batismos.
Adendo:
(1) João
Batista seria capaz de realizar a enorme tarefa de fazer imergir as multidões
que se ajuntavam em torno dele às margens do rio Jordão, ou ele simplesmente
derramava água sobre elas, como indicam algumas das inscrições primitivas? (2)
Os apóstolos teriam achado água suficiente em Jerusalém e teriam as facilidades
necessárias para batizar por imersão três mil pessoas num só dia? (3)
Onde estão as evidências que provam que eles seguiram algum outro método, e não
o modo dos batismos do Velho Testamento? (4) Acaso Atos 9.18 mostra de
algum modo que Paulo saiu do lugar em que Ananias o encontrara, para deixar-se
imergir nalgum lago ou rio? (5) O relato do batismo de Cornélio não dá a
impressão de que a água teve que ser trazida e que as pessoas presentes foram
batizadas na casa mesmo? (At 10.47, 48). (6) Há alguma prova de que o
carcereiro de Filipos não foi batizado na prisão ou perto dela, mas levou seus
prisioneiros até o rio, para que pudessem fazer-se imergir? Teria ele ousado
levá-los para fora da cidade, quando lhe fora ordenado que os mantivesse presos
com segurança? (At 16.22-33). (Fonte: Teologia Sistemática L. Berkouf)
São
questões que parecem minar a ideia de que somente a imersão seja bíblica.
A
aspersão é quando o ministro aplica certa quantidade de água sobre a pessoa.
Normalmente não precisa de locais com grande quantidade de água, pois o
objetivo é que a água seja derramada sobre a pessoa. Assim, pode ser feito em
qualquer lugar, sem limitações, bastando que haja uma pequena quantidade de
água. Alguns exemplos bíblicos parecem demonstrar que esse tipo de batismo era
também utilizado além da imersão. O caso dos três mil batizados em um só dia
(At 2.41). O batismo de Paulo na Rua Direita (At 9.11, 18). O caso do carcereiro
de Filipos (At 16.29-33).
Esses
são os modos de batismo usuais nas igrejas cristãs. Como disse e reafirmo a
quantidade de água ou a forma como ela é ministrada no servo de Cristo não é o
que realmente importa. O significado do batismo e principalmente aquilo que já
aconteceu na vida daquele que se submete a ele é o que realmente tem destaque
nas páginas da Bíblia Sagrada.
“Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado…” (Mt 28:19-20)
Contexto
geográfico:
Toda
a área da história bíblica nos apresenta regiões com pouca ou nenhuma água.
Poços eram cavados e muitos reis se preocuparam em criar sistemas de reserva de
água e de aquedutos. A água era e ainda hoje é um grande problema e uma riqueza
nessa região.
Para
João, batizar pessoas na cidade era muito difícil, pois além de serem milhares
de pessoas, a quantidade de água a ser armazenada para derramar sobre os
convertidos seria visto como um sacrilégio, diante da escassez do produto. Assim,
batizar numa parte do rio Jordão que fosse mais rasa, provavelmente, segundo
alguns historiadores, num ponto de passagem de pessoas e caravanas seria o mais
coerente.
As
pessoas entravam na água até o ponto onde João estava e este derramava a água
sobre a cabeça do convertido. Então ele saía da água e uma nova pessoa entrava
e assim sucessivamente.
As
pessoas molhavam apenas os pés, tirando-se as sandálias antes da entrada na
água. Depois era só esperar os pés secarem e colocar as sandálias novamente e
retornar ao seu lar.
Imaginem
a cena de pessoas com suas vestes completamente molhadas, tendo de enfrentar
entre cinco e dez quilômetros de volta a seu lar! Chegariam na cidade
completamente imundas, com a poeira grudada nas vestes, fato totalmente incoerente
com os costumes da época.
Não
havia acampamentos onde a pessoa pudesse trocar de roupa, entrar na água, ser
mergulhada, retornar, trocar de roupa e voltar para casa. Seria algo impossível
de se fazer.
Uma
evidência em favor da aspersão no NT é o fato de que as pessoas eram batizadas
imediatamente, no lugar em que se convertiam, quer na cidade, quer no deserto; numa casa ou em
uma estrada; na prisão ou à margem de um rio; no inverno ou no verão. Não havia
demora, não há referência alguma à saída para um lugar adequado para a imersão.
Quando
alguém cria, no mesmo instante e no mesmo lugar havia sempre o necessário para
ser batizado. Por isso, é muito difícil crer que fosse assim, se praticasse a
imersão. Pode-se supor, sim, mas é uma suposição altamente improvável. Vejamos
alguns exemplos:
Paulo
(At 9). Após sua queda e cegueira no caminho de Damasco, Paulo permaneceu três
dias em jejum na casa de Judas. Ananias, guiado por Deus, entra na casa e, após
breve instrução, batiza Paulo. Diz o texto: “a seguir, levantou-se e foi
batizado”.
Havia
um tanque na casa? foram a outro lugar? O texto não diz. A única “prova” seria
o pretendido significado de “batizar”. Todas as circunstâncias são contra a
imersão: na mesma casa, em pé, sem demora para preparar-se, sem sair nem
entrar, pondo-se imediatamente a serviço de Cristo.
O
carcereiro de Filipos (At 16). Convertido na prisão a altas horas da noite e,
lá mesmo, imediatamente batizado junto com os seus. Foram a algum rio em plena
noite? Havia um tanque na prisão? Quantas dificuldades o texto apresenta se
partirmos do pressuposto de que batizar significa imergir, e nada mais. Por
outro lado, quão simples se torna o relato, se se leva em conta que, para o
povo judeu, era coisa natural o batizar-se por aspersão ou efusão.
Cornélio e sua casa (At 10). Sobre este episódio, se diz que o “Espírito Santo caiu sobre todos os que ouviam a palavra. “Admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do “Espírito Santo”. “Quando comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então me lembrei da palavra do Senhor quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo (At 10.44; 11:15-16).
“Porventura
pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim
como nós, receberam o dom do Espírito Santo?” (At 10:47). Pedro batizou
estas pessoas por imersão? De um lado somente uma suposição contra toda
evidência. De outro porém, além da forte impressão que Cornélio foi batizado em
sua própria casa, há o registro de que o “derramamento” do Espírito fez Pedro
pensar que os termos batizar, derramar e cair — aplicados ao Espírito
Santo — implicavam uma ideia semelhante à água.
Filipe
e o eunuco (At 8:26-39). Comumente este é um texto julgado claramente em favor
da imersão. Em sua viagem, o etíope lia Isaías 53; provavelmente ele tinha
acabado de ler o último versículo do capítulo 52 “ele aspergirá muitas nações”.
Filipe lhe explicou a passagem e, quando chegaram a um lugar onde havia água,
desceram a ela e Filipe batizou o eunuco. Por imersão? Mesmo entendendo o texto
como uma entrada real na água, nem por isso fica demonstrada a imersão. Leve-se
em conta que as sandálias podiam ser facilmente tiradas, e que isto estaria de
acordo com os costumes orientais e que, depois de descerem à água, Filipe lhe
administrou o rito do batismo por aspersão ou efusão. Por outro lado, é muito
duvidoso que no lugar deserto onde se encontravam houvesse uma corrente de água
com profundidade suficiente para submergir o eunuco.
Tudo
indica que não esperaram para obter roupas próprias para o batismo e não é
provável que o viajante se submergisse com a roupa que trazia ao corpo. O texto
diz simplesmente que, após o batismo o eunuco “foi seguindo seu caminho cheio
de júbilo”. Diz o texto, também, que Filipe foi “arrebatado pelo Espírito do
Senhor” para Azoto. Não podemos presumir que o Eunuco seguiu viagem pingando
água e Filipe achou-se repentinamente em Azoto com as roupas encharcadas.
Os três mil de Atos 2 (vv 37-41). No mesmo dia em que os discípulos foram batizados do alto pelo derramamento do Espírito sobre eles, mais três mil almas foram acrescentadas à Igreja. Foram submergidos estes convertidos? Para responder que sim, só se pode dar como prova o pretenso significado da palavra batismo, o qual já descartamos. Nada mais no texto pode sugerir a submersão. Porém, para negá-la, amontoa-se uma série de circunstâncias: Não havia lugar para realizar essa forma de batismo, nem no templo, nem nos arredores onde estavam reunidos. Quem sabe foram em procissão até a porta dos ovelhas onde havia um tanque, pediram licença à multidão de enfermos que lá jazia (Jo 5:1-3) e passaram horas e horas, provavelmente até tarde da noite, submergindo três mil pessoas.
Será
que naquele dia Jerusalém presenciou multidões de pessoas andando pelas ruas, a
caminho de suas casas com as roupas gotejando, encharcadas, coladas a seus
corpos?
Todos
esses obstáculos, mais o fato de o batismo do Espírito Santo ter sido
descrito como um derramamento, na realidade se opõe fortemente à ideia da
imersão, ao passo que se harmoniza perfeitamente com a aspersão ou efusão. Para
esta última forma de batismo havia tempo suficiente; o lugar onde estavam era
adequado, não era preciso uma muda de roupa e ninguém necessitou voltar molhado
para casa. Não há, portanto, contradição entre o batismo do Espírito e o da
água. A palavra batizar se emprega em ambos os casos, com o mesmo
sentido, pois tanto a água como o Espírito são derramados sobre as pessoas.
Considerações
finais:
Diante
do exposto, podemos afirmar, sem medo de errar, que o batismo de Jesus foi por
aspersão e assim foi o batismo dos demais personagens bíblicos. Negar isso é forçar
a interpretação das Escrituras.
Grande controvérsia surgiu quando no século XVII, John Smyth, um anglicano convertido à igreja dos Independentes em 1609, hoje, os Congregacionais, se batizou a si próprio, e em seguida à igreja que pastoreava, por entender que o batismo deveria ser administrado somente aos adultos crentes que professassem a fé em Jesus Cristo, e não a infantes que nada entendem da fé. Isto aconteceu porque ele foi batizado na infância, e a maioria da sua congregação, também; e, em determinado tempo da sua vida passou a descrer e a pregar contra batismo infantil, como assim o faziam os anabatistas.
O
modo do uso da água não causou nenhuma controvérsia teológica, no caso do
rebatismo de Smith, se é que se pode falar assim, pois até aquela data, todos
usavam o regar da água, seguindo o costume antiquíssimo do rito, isto é, a
aspersão ou efusão, apesar de Martinho Lutero, falar que se deveria mergulhar
três vezes a criança na água, por causa do termo baptismós; João
Calvino, afirmou que imersão ou aspersão, não faz diferença nenhuma; e,
Zuinglio defendia a administração da água, isto é, a aspersão ou efusão.
John
Smyth, com seu grupo de seguidores, é visto na história eclesiástica, como
sendo o fundador da linhagem histórica dos Batistas.
O
maior conflito não foi o rebatismo de Smyth na Holanda, mas, a introdução da
doutrina do batismo por imersão, na Inglaterra, por volta de1640, por um pastor
conhecido como Helwys, quando um grupo grande de crentes voltaram da
Holanda, após a exclusão de John Smyth, pelo fato do mesmo ter-se passado para
a comunidade dos Menonitas em 1611.
Os Batistas surgem na trilha do rebatismo, da rejeição ao batismo por aspersão, e da administração do batismo por imersão. Este último ponto é o grande “cavalo de batalha” dos Batistas e de todas as outras comunidades que descendem deles, acrescida do motivo da nova dissensão.
Os Batistas surgem na trilha do rebatismo, da rejeição ao batismo por aspersão, e da administração do batismo por imersão. Este último ponto é o grande “cavalo de batalha” dos Batistas e de todas as outras comunidades que descendem deles, acrescida do motivo da nova dissensão.
Os
anabatistas, nome inicial dos Batistas, introduziram o batismo por imersão como
um ato de rebeldia contra a Igreja Católica. Eles não apenas exigiam que os
novos convertidos fossem batizados por imersão, para mostrar que eram
diferentes dos católicos, como exigiam que os que se agregassem ao grupo fossem
rebatizados.
Concordamos
com o rebatizamento, por exemplo, de crianças que foram batizadas mas nunca
deram profissão de fé, por serem ainda bebês. É um caso diferente. Agora,
rebatizar um irmão na fé, que professa o nome de Cristo, só por ter sido
batizado por aspersão, aí não podemos concordar.
O
batismo por imersão cria grandes dificuldades de interpretação e acaba gerando
situações peculiares. Vejamos:
Uma
pessoa que está enferma não pode ser batizada por imersão. Se ela falecer, terá
sido negado a ela uma ordenança do próprio Senhor Jesus.
O
mesmo se aplica a pessoas muito idosas, pessoas cadeirantes, portadoras de
doenças da pele, pessoas extremamente obesas e outros casos particulares.
Pessoas
que estão encarceradas também encontram grandes dificuldades para serem
batizadas.
O
batismo dentro de tanques é insalubre, pode disseminar doenças de pele, além de
ser anti-higiênico.
Certa vez assisti a um batismo na igreja em que frequentava no Rio, onde foram batizadas no mesmo tanque vinte e oito pessoas! As mulheres foram as primeiras! Imaginem se uma ou mais delas tivessem algum problema de corrimento vaginal ou estivesse menstruada! Imagine cada uma das pessoas, ao serem levantadas, expelindo água pela boca dentro do tanque! Depois da décima pessoa, a quantidade de saliva dentro da água já seria motivo imediato para a troca da mesma.
Imaginem
o desperdício de água! O tamanho da conta! Em um momento tão crítico, com os
recursos hídrico cada vez mais escassos!
Algumas
igrejas batizam em rios, lagos ou lagoas. Entretanto, a cada dia que passa, a
poluição das águas aumenta cada vez mais, podendo causar graves doenças nos
batizandos!
Além
disso, como visto acima, as pessoas, ao se converterem, eram batizadas
IMEDIATAMENTE! Não havia “cursinho” ou “doutrinação”. Creu e aceitou a Jesus
como único e suficiente Salvador, o batismo era imediato!
Agora vem a polêmica: Se o modo mais correto
de batismo é por aspersão, mas tem várias denominações que batizam por imersão,
isso é uma heresia? Claro que não! O importante é o batismo. Agora, em minha
opinião, a igreja deveria oferecer aos seus membros a opção de imersão ou
aspersão. Sem impor este ou aquele modelo. Mas pela forma prática, simples e de
alcance quase que total, o batismo por aspersão, sem dúvidas, é muito mais
interessante!